Grande mídia cria "nerds" para evitar a "vingança" dos nerds brasileiros

ENCORPANDO A VITAMINA: Brasileiro entende tudo errado. Quando recebe uma ideologia estrangeira, trata logo de inserir enxertos contraditórios, criando muitas vezes um estereótipo que vai contra a filosofia original. foi assim com a cultura rock, com o Espiritismo e agora com a cultura nerd. Os brasileiros, com isso acabaram construindo uma cultura nerd que vai contra os nerds, o que soa estranho, mas é real.

Para se ter uma ideia, se Jean Claude Van Damme ficar mais de 5 horas na frente de um computador, no Brasil, ele já pode ser considerado um autêntico nerd. E nerd gosta de futebol (como disse Spohr em uma entrevista)? Isso é forçar a barra num país onde gostar de futebol é considerado uma obrigação cívica e social. Quem não gosta de futebol no Brasil é automaticamente excluído do convívio social, todos sabem disso!

É muito pretensiosismo, senhor Eduardo Spohr! Você pensa que é o quê, hein, caricatura de nerd bastardo? deixa a gente em paz, porra e vai cuidar do teu timinho de futebol e seus milionários e analfabetos jogadores com cara e mentalidade de favelados inertes (extremamente o oposto da atitude legítima dos nerds)!

Se encontraram uma maneira mais eficiente de praticar bullying anti-nerd, finalmente encontraram. Pois não há nada melhor para impedir a vitória de um perdedor crônico do que tomar o lugar desse perdedor crônico, fingindo ser um perdedor crônico. Cá para nós, uma forma ainda mais cruel de bullying.

Grande mídia cria "nerds" para evitar a "vingança" dos nerds brasileiros

Por Alexandre Figueiredo - Mingau de Aço

"Vamos virar nerds antes que os nerds os sejam". É esse o mandamento da grande mídia e do mercado brasileiros, e mais uma vez um pretenso "nerd" dá as caras usando e abusando do termo, aproveitando-se do modismo lançado mundialmente por eventos tipo Comic Con.

Depois da Editora Abril, através da revista Info Exame, ter dito que o "humorista" Rafinha Bastos é "nerd", é a vez de O Globo vir com o "nerd assumido" Eduardo Spohr, autor do blogue Jovem Nerd e escritor de livros, em entrevista publicada anteontem.

O texto começa infeliz, pois, querendo "fugir dos estereótipos" nerds, investe num estereótipo pior ainda, já definido na citação de um depoimento do autor: "Se um cara sabe tudo sobre o Flamengo, por exemplo, sabe a escalação do time em 1937 e todos os gols jamais feitos pela equipe, ele é um nerd".

Spohr se afirma, e insiste em ser reconhecido como um "nerd autêntico". Mas, observando o perfil dele e do tipo de nerd que ele deseja difundir, um estereótipo "livre de estereótipos" que encaixa bem numa sociedade de uma intelectualidade cultural "sem preconceitos" mas muito preconceituosa, dá para perceber que Eduardo Spohr é tão nerd quanto Eike Batista é um trotskista.

O "nerd" sonhado por Eduardo Spohr, diferente dos "estereótipos" difundidos por filmes como Vingança dos Nerds e o seriado Big Bang Theory, na verdade possui caraterísticas que soam muito estranhas para o verdadeiro nerd, e se encaixam mais em fraternidades de atletas fortões que praticam bullying.

Mais próximo do perfil de rapaz "desajeitado" (mas nada nerd) de filmes como Se Beber Não Case e de comerciais de cervejas Nova Schin e Skol, o "nerd brasileiro" é fanático por futebol, por filmes de pancadaria e seu sucesso com as mulheres chega a ser demasiado positivo para a realidade de um nerd médio, principalmente no Brasil.

Se fosse personagem de Vingança dos Nerds, Eduardo Spohr seria seguramente um membro da fraternidade Alfa-Beta, a dos atletas valentões, até porque ele demonstrou ser fanático por esportes, filmes violentos, e tudo o mais, como deixou claro em várias postagens do Jovem Nerd.

A única coisa que une esses pretensos nerds e os nerds verdadeiros é a fixação por informática e histórias em quadrinhos. Mas isso é insuficiente para definir os pretensos nerds "cervejão" como autênticos. Seria como se classificássemos um neoliberal como "guevariano" só porque ele urina num banheiro público.

Há uma obsessão nos brasileiros em serem o que não são, de serem até o oposto do que realmente são. Metade dos jovens neoliberais brasileiros se dizem "de esquerda". Em São Paulo, uma "rádio rock" na verdade não passa de uma emissora pop como qualquer outra, mas cheia de pretensões. As mulheres-objetos que servem à mídia machista se autoproclamam "feministas" e por aí vai.

A grande mídia festeja com exemplos tipo Eduardo Spohr - que nada tem a ver com o tipo de nerd clássico nem de nerd flexível, ele na verdade é um pseudo-nerd - , com obsessão com o termo nerd mas com o interesse de desvirtuar os conceitos originais da palavra, porque desse modo os verdadeiros nerds (aqueles que têm mais a ver com Lewis Skolnick e Leonard Holfstadter) acabam perdendo seu espaço.

No fim, os pretensos nerds acabam fazendo bullying nos nerds verdadeiros. Vai que os nerds verdadeiros são "premiados" pelos pretensos nerds brasileiros a virarem gandulas de futebol, a ganharem trotes de valentões ou a namorar boazudas descerebradas de corpos siliconados.

Entendemos, através da sociologia, que, assim como a essência do falso é se passar por verdadeiro e acusar o autêntico de ser uma "fraude", os falsos nerds, estereotipados pela mídia, é que chamam os verdadeiros nerds de "estereotipados". Sheldon Cooper não iria com a cara de Eduardo Spohr.

Houve um tempo em que nerd tinha um sentido pejorativo. Hoje virou modismo, com as tais "novas tonalidades", dentro de um Brasil que constrói o novo em bases velhas, e iria construir mesmo a "cultura nerd" através de valores deixados pelos valentões do bullying.

Hoje pretensos nerds querem tomar o lugar dos autênticos, só porque gostam de quadrinhos e informática. Mas qualquer um gosta de quadrinhos e informática, qual é a diferença? Daqui a pouco vão dizer que até Reinaldo Azevedo é nerd. Aí vai virar bagunça.

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