A praga das dublagens

Numa época em que tudo era para se evoluir, acontece o contrário, tudo regride. Na cultura e no lazer estamos vivendo um inacreditável retrocesso que só decepciona em quem esperava alguma evolução mental do ser humano.

Uma das coisas que caracterizam essa mediocridade que se tornou epidêmica na sociedade atual, sobretudo na brasileira, é a praga de obras dubladas, atribuída ao crescimento econômico - mas não intelectual - da classe tida como "média"*

A praga já virou hegemônica nas TVs por assinatura, que há um bom tempo está priorizando uma programação mais popularesca, se transformando numa extensão paga da TV aberta. E em muitas emissoras pagas, a programação dublada se monopolizou, fazendo com que os fãs de artistas desconheçam completamente a voz original deles, se contentando com vozes de outras pessoas. Nada contra dubladores, mas deveriam pelo menos deixar alguma opção para quem quer ouvir a voz do ator, não a de um mero cidadão que a gente nem conhece a cara.

E a epidêmica dublagem já chegou aos cinemas, antes redutos exclusivos de obras legendadas. Somente filmes infantis eram dublados (e porque não legendá-los também, pois as crianças de hoje já sabem ler desde cedo - só faltando aprender a pensar - ?). Mas agora até filmes para adultos são exclusivamente dublados em várias salas. Dinheiro jogado fora.

Exigência de conhecimento do segundo idioma, somente para o mercado de trabalho, já no lazer...

O que aumenta ainda mais a minha revolta é uma contradição que noto neste sistema. Brasileiros adoram contradições, é verdade, mas quem defende contradição é inimigo da lógica e do bom senso e não tem o discernimento entre suas qualidades.

Será que ninguém ainda perguntou porque no lazer há uma grande preocupação em poupar o cidadão de tentar entender inglês se no mercado de trabalho acontece o contrário. Até em empregos em que não há contato com estrangeiros, em muitos casos, o conhecimento do idioma inglês é exigido. Provavelmente o mercado entende que quem fala "How are you" para um caipira analfabeto de Cabrobó do Pirijipe, trabalha melhor.

Se exigem tanto o inglês para o emprego, porque a mesmíssima sociedade libera o conhecimento de inglês no lazer? Porque não estimulam a verificação de muitas mentiras ditas pela mídia brasileira, em sites estrangeiros. O conhecimento de inglês, também no lazer, pode ser uma poderosa arma de defesa. Aí perceberíamos que o "estrondoso sucesso internacional" do Michel Teló, por exemplo, não passa de papo furado de uma dúzia de brasileiros que mora fora do Brasil, já que quase não há menção a isso na maioria dos sites estrangeiros.

Soa hipócrita essa contradição de ter que dispensar a exigência do segundo idioma no lazer ao mesmo tempo que exige no mercado de trabalho. Os patrões ainda não entenderam que uma pessoa já habituada a usar o inglês em seu cotidiano, tem a melhor capacidade de usá-lo também no trabalho?

Acho melhor essa praga de filmes, seriados e documentários dublado se limitar a um modismo passageiro, sumindo o mais cedo possível. Para garantir o emprego de dubladores, poderia limitar a dublagem a opção para DVDs ou para emissoras de TV que tenham um público menos exigente.

Temos o direito de ouvirmos o som original das obras, pois foi com esse original que elas foram criadas.

Imaginem se na música acontecesse a mesma coisa? Com Ivete Sangalo fazendo todas as vozes da Madonna no seu mais recente álbum. Como ficaria Girls Gone Wild? "Garotas se tornam piriguetes"? Patético.
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*NOTA: Legal, pelo jeito eu subi de classe, passando a integrar a classe "B", já que a classe "C" mencionada pelos meios de comunicação tem características típicas de povão semi-analfabeto, que apesar de ganhar acesso a bens de consumo, ainda não possuem a verdadeira qualidade de vida e ainda continuam tão burros feitos umas antas, ainda preguiçosos na hora de correrem atrás de verdadeiras informações do que acontecem ao seu redor, mantendo a confiança cega naquilo que é lançado pela mercenária e mentirosa mídia oficial. Com absoluta certeza, eu não faço parte dessa acéfala classe "C" que tanto dizem por aí.

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