Jota Quest: de boa banda de black music a péssima banda de rock

É comum muita gente negar a sua verdadeira vocação para fazer algo que não é adequado as suas qualidades. É aquela coisa de recusar ser o melhor dos ratos para ser o pior dos elefantes. Com a banda mineira Jota Quest não é diferente.

Surgida como J.Quest e mudado seu nome graças a um acordo com a Warner Bros  (dona da marca "Johnny Quest", relativa ao desenho produzido pela produtora Hanna Barbera, braço da Warner), a banda liderada por Rogério Flausino era uma competente banda de black music, como eu pude comprovar em um show que tive a oportunidade de ver na TV paga (o show é antigo, mas foi transmitido cerca de uns 10 anos atrás, quando eu pude ter TV paga), feito quando a banda ainda era novata.

A banda tinha potencial de se evoluir fazendo black music. Se quisesse se fixar no gênero poderia até fazer um novo movimento black, como uma espécie de discípulos de Tim Maia. Talvez essa palhaçada de "funk" carioca nem tivesse ganho essa força que o torna autoritariamente hegemônica (tipo: "gostem ou não, vocês tem que nos aceitar"). Mas algo aconteceu que tirou a banda Jota Quest do bom caminho.

Eis que entra o radialista e empresário musical Ricardo Chantilly, o cara que é conhecido por enfraquecer a fase final da Fluminense FM. Ele adotou o grupo como seu pupilo artístico e decidiu mudar tudo. Não só orientou a banda a mudar de som e de atitude, para algo mais roqueiro, como criou uma estranha campanha de martelada para associar forçadamente a banda a rótulo de rock. Toda a vez que a banda aparecia, a palavra "rock" tinha que ser pronunciada de maneira insistente, além da citação de qualquer referência que pudesse defini-la como "rock". Mas tudo de maneira forçada e claramente publicitária. Trocando em miúdos: "Jota Quest agora é rock".

Só que a sonoridade da banda piorou muito com a "guinada". O que era uma promissora banda de black music e soul-funk, virou uma medíocre banda de rock de atitude forçada e sonoridade fraca. Até as letras pioraram, o que rendeu muitas piadas e a fama de piores letras do pop nacional. O pior é que a mídia resolveu estigmatizá-la como "banda para trintões", mesmo fazendo uma sonoridade bastante infantil. Mas como não existe mais música de adulto e sim músicas infantis para adultos, tudo normal.

Infelizmente a banda tem se consagrado desta forma, perdendo a oportunidade de se evoluir fazendo o que sabia fazer com competência. Apesar de ter gostado bastante do show que eles fizeram na fase black, hoje nem quero mais saber da banda, que para mim se uniu a muitos outras que transformaram o rock nesse mingau pra neném que estamos cansados de ver e ouvir surgir todos os dias.

Fiquem com a excelente versão para o sucesso do soulman Hyldon, quando a banda Jota Quest tinha qualidade musical e nenhuma pose metida de falsos roqueiros.


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