A consagração do falso nerd pela mídia brasileira

Já falei diversas vezes que os brasileiros não entenderam a ideologia nerd difundida nos EUA. A ideologia chegou aqui e foi logo sendo distorcida, com características bastante diferentes e com aspectos inclusive opostos aos dos nerds ianques.

E não se trata de "adaptação à cultura brasileira", já que a visão brasileira do nerd nada tem de abrasileiramento, além de tomar como modelo um filme ianque: Hangover, conhecido aqui como "Se beber, não case", que nos EUA nada tem a ver com a ideologia nerd e sim com a retomada juvenil do machismo, em moda no cinema de lá.

A estigmatização do nerd no Brasil, acredita-se, se deve por alguns motivos:

- o nerd original é associado a tecnologia, dando uma força positiva ao rótulo; com isso todos querem ter o rótulo, para serem incluídos no "universo tecnológico";
- a sociedade brasileira, como em qualquer sociedade latina, reprova o macho fracote. Como o nerd ianque é fracote, houve a necessidade de criar outros estereótipos de nerd para tentar dissociar a ideia de fracote, fracassado e não-social.

Ninguém quer assumir um rótulo que está na moda se ele está ligado a fatores depreciantes. Com isso, no Brasil, apareceu a necessidade de criar um novo estereótipo do nerd que tenha eliminado os defeitos classicamente associados a ele, mas mantendo a fama de desleixado.

Então, saem os óculos e o aparelho dentário e entram as barbas (parece coisa de muçulmano - nerd agora tem que ter barba). Sai o rock alternativo e entra o metal-farofa. Sai as comédias juvenis e entra os filmes de pancadaria. sai o toddinho e entra a boa e velha cerveja (tradiocionalmente consumida pelos anti-nerds). Sai a solidão e entra o namoro bem sucedido com mulheres intelectualizadas.

Bingo! E aí surge o nerd brasileiro, "limpo de todo e qualquer defeito do nerd original. Um cara totalmente pronto para a vida social plena, que só difere do homem comum por ficar algumas horas a mais no computador. E só.

E com isso, mantem os verdadeiros nerds na exclusão social, sem direito sequer a ter um rótulo, já que isso poderia gerar união entre a citada classe de excluídos. Isso também ajuda os "nerds" brasileiros a passarem a perna nos nerds tradicionais, já que aproveitaram as situações em que era necessária a presença dos verdadeiro nerds, tomando o lugar destes.

Aproveito para criar o rótulo aos falsos nerds criados no Brasil, baseando-se em seu perfil: Judão Cervejão. O rótulo se dá por causa dos sites brasileiros que se auto-rotulam de nerd (como o Judão, o Jovem Nerd, etc.), difundindo uma imagem errada da tribo e das propagandas de cerveja imbecis, que mostram também supostos nerds.

E com isso a tradição excludente da sociedade brasileira se mantém, tranquila por ver os verdadeiros excluídos a margem da sociedade, ao mesmo tempo que mascara a justiça social dando benefícios a falsos excluídos de todos os tipos, dando a ilusão que o povo brasileiro é bom e justo.

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